A palavra trepanação é derivada do grego trypanon, que significa “furar”. Consiste no procedimento cirúrgico que realiza uma perfuração no crânio, visando à exposição do conteúdo intracraniano para tratamento médico de certas doenças. No passado, era também realizado por questões místicas.
A trepanação representa uma das intervenções cirúrgicas mais antigas realizadas pela humanidade. Há evidências históricas e arqueológicas que apontam para a realização de trepanações cranianas desde épocas remotas, cerca de 10.000 anos antes da era cristã.
No início, a trepanação tinha propósitos místicos e ritualísticos, associados a culturas primitivas do continente africano e Mesoamérica. Com o passar do tempo, as civilizações egípcia, grega e romana identificaram propriedades terapêuticas para certas condições de doença, chegando a produzir documentos com instruções para a sua realização.
Durante toda a Idade Média europeia a trepanação seguiu sendo realizada segundo as orientações e princípios de Hipócrates e Galeno, até que avanços nos conhecimentos anatômico e científicos proporcionaram o desenvolvimento de técnicas cirúrgicas mais refinadas.
As primeira descrições documentais sobre o uso e orientações relativas à técnica de trepanação datam do quinto século antes de Cristo, na Grécia Antiga, nos escritos de Hipócrates intitulados “Sobre as Lesões da Cabeça”. Nesse documento, Hipócrates descreveu diferentes tipos de fraturas cranianas e orientou condutas específicas e cuidados para o uso da trepanação.
Na era romana, foi com Galeno que os ensinamentos e orientações de Hipócrates foram melhor elaborados e organizados, ao lado de seus conhecimentos anatômicos obtidos por experimentações e dissecções cadavéricas.
Os trabalhos destes dois médicos da antiguidade guiaram a realização das trepanações por todo o período da Idade Média e Renascimento. Vale lembrar que tais cirurgias primitivas eram realizadas sem anestesia ou uso de antibióticos para prevenção de infecções ou tratamento das mesmas, o que elevava em muito a mortalidade dos pacientes eleitos para tais intervenções.
Quem foi Hipócrates?
Hippocrates Asclepíades (460- 377 AC), que significa descendente direto de Asclépios, o deus da medicina, apesar de não ser claro se este era o seu real nome ou se lhe foi atribuído posteriormente como honraria ainda em vida. Foi um médico pensador que procurou se livrar das superstições que permeavam o mundo na época. Ele revolucionou a medicina na Grécia Antiga usando princípios de observação e exame clínico, estabelecendo-a como disciplina distinta da teologia e misticismo puro. É considerado o “pai” da medicina moderna.
Quem foi Galeno?
Galeno de Pérgamo (129-200 DC) estudou na Escola de Medicina de Alexandria por 4 anos. Retornou a Pérgamo em 157 DC, com 28 anos, onde iniciou sua prática como médico de Gladiadores.
Em 168 DC, já em Roma, desde 163 DC, foi apontado como médico pessoal de Commodus, filho do Imperador Marcus Aurélius, tamanha já era a sua fama e notoriedade.
Foi um médico que contribuiu de forma importante para o nosso conhecimento sobre o sistema nervoso, neuroanatomia e neurocirurgia. Foi Galeno que descreveu pela primeira vez estruturas do sistema nervoso central, tais como o corpo caloso, sistema ventricular, fórnix, tectum, glândula pineal, hipófise e nervos cranianos.
Ele refinou a técnica de trepanação craniana e definiu de forma mais precisa seus usos e indicações à época. Seus escritos e trabalhos fundamentaram a prática médica nos séculos seguintes ao Império Romano.